sábado, 29 de dezembro de 2007

Infância

Muitas crianças tentaram, mas fui uma das poucas que posso dizer que fui ao inferno e voltei, tipo personagem de desenho japonês. Eu fui e voltei do "Xou da Xuxa", apareci na TV, tomei esporro do Russo, e depois de toda essa experiência traumática, ainda consigo ler, (tentar) escrever e até formular alguns poucos pensamentos criativos. E não foi apenas uma vez, e sim QUATRO. Como eu consigo manter mais de 40 segundos de conversa e não babar sobre meu interlocutor ainda é um mistério para as futuras gerações. Se bem que, do jeito que o mundo vai, as futuras gerações irão morar em cavernas com TV digital. Talvez se eu não tivesse passado por essa terrível provação, daria aula em Harvard de física nuclear e já teria vários nobels na estante.


Mas deixe-me contar o acontecido, já que os fatos são venéreos . Era eu uma crianças de singelos oito anos que efetuava cálculos complexos no ITA, conversava com o Carlinhos Brown sobre música e entendia o que ele falava (até com o Arnaldo Antunes), e discutia existencialismo com grandes desempregados filósofos. Um belo dia, minha tia disse que levaria-me à gravação do programa mais visto na televisão. Na época, ainda não existia Cocktail (mentira, já existia, mas eu tinha oito anos, porra), e também ela disse que era um programa de uma apresentadora loira e que tinha feito filmes pornôs com animais crianças. Imaginei que era a Cicciolina, mas eu ainda não falava italiano, então refutei. Porém, ela me informou que a tal apresentadora tinha o nome da mãe de Jesus e falava sempre "no cara lá de cima", e pensei que não haveria problemas, já que ela era religiosa e amiga de pilotos de avião, então fui.

ATENÇÃO, OS FATOS A SEGUIR SÃO UM POUCO MAIS VENÉREOS VERÍDICOS!

Primeiramente, cheguei ao bairro do Jardim Botânico, onde já havia ido algumas vezes para discutir a diversidade da flora com alguns botânicos renomados. Mas era uma construção feia, onde eu observava por uma fresta um galpão sobras da cenografia do programa do Velho Guerreiro. Meninas com cabelos pintadas, roupas estranhas e cabelos recém-saídos de uma permanente eram a grande maioria. Mas ok, ao exercitar minha retórica com grandes oradores aprendi a não criticar.

Entramos na medonha edificação, e após uma longa espera no que eu só posso comparar a um posto do INSS (se você já foi em um sabe do que estou falando), fomos direcionados a uma ambiente deveras espaçoso, que era dividido entre cadeiras confortáveis iguais a um estádio, e vários brinquedos coloridos onde as crianças se machucariam, inclusive eu. Alguns infantes imaturos prontamente correram em direção ao paraíso do divertimento, ao que foram interrompidas pelo assistente de palco (isso é profissão?) Russo, com um sonoro "Vocês só podem brincar depois que eu mandar, porra!". Todas aquietaram-se, e escutaram um blábláblá do qual não me recordo. Momentos após, descia a amiga dos aeronautas Maria da Graça de um disco voador( será que eu tava chapado?) para agitar a petizada. Eu esperava alguém religioso, com o nome tão cristão, mas ai desce uma loira com um short que dava pra cobrir,...pra cobrir,... é, não dava pra cobrir muita coisa, não.

Um mosquito gigante que tocava guitarra? Eu era muito criança pra estar drogado.

Ok, como não poderia discutir as primeiras eleições diretas após a ditadura que seriam naquele ano com nenhuma daqueles, hum, companheiros, me dispus a agir como eles. Em Roma ande com as romanas, aquele assunto. Então comecei a girar em um brinquedo que era como uma roda que as crianças estavam, e achei deveras interessante, embora meio primitiva a diversão que me proporcionava. Nesse tempo que ali me encontrei, aconteceram duas coisas:

1) Estava um puta calor, o que fazia com que eu me dirigisse repetidas vezes a um isopor que continha diversos copos de água mineral (guarde essa parte, será importante no desenrolar dos acontecimentos).

2) Quebrei meu óculos.

Em uma das minhas idas para buscar água, uma garota vestida de soldado de chumbo, agarrou-me e jogou-me em uma almofada. Pensei que era uma traficante de orgãos, mas era apenas para participar de uma "brincadeira" com a Maria. O jogo consistia em adivinhar uma letra de música que tocava ao contrário, que devido ao meu intelecto superior rapidamente identifiquei segundos antes de Maria bater com o microfone em meus dentes, quando balbuciei:

-Lua de Cristal.

-Menino, você é um gênio!!!! - exultou Maria.

Quase que instantaneamente, um cara vestido de mosquito tentou me assediar, porém, dei-lhe uma singela cotovelada no fígado com meus conhecimentos avançados de anatomia. Após isso, ela me presentou com um jogo lúdico de um tubarão, e voltei a roda que havia deixado tão contrariamente à minha vontade.

Continuei indo e vindo do brinquedo, abastecendo meu corpo com água mineral. Esqueci que tal movimento circulares aliados à excessiva quantidade de liqüido em meu organismo só poderia resultar em uma coisa : merda. Comecei a sentir enjôo, e fui até minha tia, que se encontrava com os responsáveis das outras crianças no local acima (como chamar alguém que leva o filho a um lugar desse de responsável?)

-Tia, não tô legal.

-O que você tem?

-Vontade de vomitaaaaaaaaaaaarrrrr( bleáááááárghhhhhh).

Enquanto limpava minhas entranhas da água contaminada da Vênus Platinada, as velhas reclamavam (garoto nojento), e fui expulso do recinto, com meu brinquedo embaixo do braço. Depois desse dia, nunca mais fui o mesmo. E não tem piada no final do post. Uma pena.

22 comentários:

Anônimo disse...

Marcelo, adorei a forma cômica como vc narrou os fatos hahahhaha, estou rindo até agora, e essa do Russo dando esporro na criançada deve ter sido de chocar mesmo, aquela criatura com aquele nariz, parece avô do Luciano Huck kkkkkkkkkkkkkk...

Um abraço e excelente post!

www.ooohay.wordpress.com

Anônimo disse...

ahuahuaha...ai ai admite vc adorou!!!
meu sonho sempre foi conhecer o Jd.Botanico, qdo ela falava o endereço eu imagina uma coisa tão bonita... ai ai

blog disse...

Uma tristeza, camarada.
Trauma, sim, claro. Putz, levar esporro do Russo?

Anônimo disse...

Logo o Russo, um cara que parece ser paciente demais.

Ulisses disse...

Que situação traumática hahaha. Eu, nesta época, morria de vontade de ir no bozo. E tinha aquele da Angélia que era um jogo em todo o estúdio que ia jogando um dado e andando umas casas. Como éramos inocentes (bobos).

Everaldo Ygor disse...

Hehehehehe
Um ótima crônica...
Trauma total da velha xuxa, mas que pesadelo...
Abraços
Everaldo Ygor
http://outrasandancas.blogspot.com/

Ana Lívia disse...

Noossa!
Sabe... conheço ótimos profissionais em psicologia, posso indicar algum.
A Tia Xoxa é bizarra, né?!...
e sbe pq eu queria ir no progrma dela?! Só pra mandar um beijo pras Paquitas... ninguém mandava beijo pras paquitas...
rs

Anônimo disse...

hahaha A-D-O-R-E-I

não sei se seria mais traumático eu ter ido, ou assim, eu não tendo ido ha

Anônimo disse...

Eu fui no Bozo!!!! Ganhei aquele baú de brinquedos, parecia que tinha um monte...mas na verdade era uma boneca, uma corda e uma quebra cabeça.
Odeio o Bozo

Frank HW disse...

hahaha
Gostei especificamente dessa parte:
Eu era muito criança pra estar drogado.

Muito bom!

MH disse...

hahahahahahahaha. Bom pra cacete. Vou voltar mais vezes aqui. Alias, depois passa la no meu blog, creio que estamos em sintonia no que tange a BESTEIRAS.
Abraçao.
Em tempo...hoje a xuxa ta mais gostosa.

Zanfa disse...

Ah para, sempre tive vontade de ir ver o xou da xuxa ao vivo.

Mas depois desse relato, ainda bem que não fui. =p

Anônimo disse...

A xuxa é uma criatura que ninguém merece, só pelada mesmo é que vale a pena hahahahha...

www.ooohay.wordpress.com

Unknown disse...

Eu fui uma dessas raras crianças!
Fui e consegui voltar!
E foi a coisa mais s/ graça da minha infância.
1º mal olhei p/ cara da Xuxa pq não deixavam as crianças chegarem perto dela se não fosse p/ participar das brincadeiras, e eu naquela época já era meio anti-social(ou seria tímida?), achei mó chatice aquilo lá, e minha mãe ficava mandando eu ir p/ frente p/ aparecer na TV só que as paquitas me empurravam. O único brinquedo que eu fui foi um escorrega, e só fiz um lanchinho, que se nao me engano foi um Todynho c/ qualquer coisa, mas que valeu mais que todo o resto...
Quanto a água, acho que elas davam p/ gente, não me lembro de nenhum isopor.
Ah e quando eu fui, devia ter +ou- a mesma idade, pq sinceramente, eu não consegui guardar este fato na memória.
Beijos

¿Controversy! disse...

Quanto ao Xou da Xuxa, sempre gostei de assistir. Porém, os responsáveis deixar que as crianças sejam mal tratadas, é complicado. Pena que não teve alguém de coragem suficiente para denunciar isso, ao menos que saiba. Feliz 2008!
¿Abraços!

Clara Gomes disse...

vixe... o que será que colocavam nessa água?

Anônimo disse...

Cara, hilária essa sua história @.@ Não consegui piscar por um momento até consegui chegar no final... E pensar q conheço pessoas q ainda gostam da xuxa... E sabe do pior? Não são crianças huashuauhsuhas

ps.: sim, eu confio na sua opinião... és um louco no meio de tantos q se dizem sãos...

Anônimo disse...

Como era oo Russo? Ele jah foi mais jovem? Digo, menos velho?

Unknown disse...

Pois é! Pena que não teve alguém corajoso o bastante p/ denunciar.
Pq havia sim maltratos...

Talvez hoje a coisa tenha mudado, pq senão, não teria como ela manter o nome tão limpo assim durante tantos anos.
Talvez c/ a separação da Marlene Mattos, muitas mudanças tenham ocorrido.

Beijos. FELIZ 2008!

Kallango disse...

Veja o lado bom das coisas: Pelo menos não lhe cobraram as águas que você tomou!

Alê Coelho disse...

KKKKK... tu tb foi??? Eu tb... mas tenho uma experiência mais traumática:
Havia naquela época um desfile de moda feito pelas crianças presentes no recinto...
Minha amiga foi desfilar, e eu quis ir tb... e lá fui eu toda contente pedir para a soldadinho de chumbo deixar eu andar naquela passarela assombrada (ela se movia sozinha). Como vc já sabe, qdo criança eu possuia formas BEM arrendondadas, e então, sutilmente a putita, digo, paquita, disse: Não, vc não pode desfilar, vc é gorda, o desfile é só para crianças magrinhas...

Ai ai... qta psicologia...

Bruno disse...

Interessante o seu conto, eu teria orgulho de falar que vomitei no show da Xuxa!

Todo mundo fala desse menino que fez filme pornô com ela. As pessoas parecem ter "dó" do menino... Rsrsrsrsrs!!!

Minhas amigas, e meus amigos, se o menino tivesse sido eu, eu estaria fazendo um museu com todas as boas lembraças desse filme, e convidaria a Rainha dos Baixinhos [por que acham que ela recebeu esse titulo? Por que foi com um baixinho para a cama, horas!] para ela vir estrear o museu, e quem sabe, terminar o que começamos anos a trás... Rsrsrsrs!!!

Ela tá ficnado velha agora, mas foi um delicia na juventude...