Olhando mulheres gostosas no shopping, parei em frente a uma loja diferente. Mercadorias esquisitas, uns vidros fumegando de cor púrpura. Entrei e comecei a olhar o que estava escrito.
-Aí, quanto ta a garrafa de esperança?
-Quatro “conto”, três por dez.
-Demorou, e perspectiva, quanto tá?
-Perspectiva acabou, tá em falta.
-Porra, do que adianta esperança sem perspectiva?
-Olha, tô sem perspectiva pra vender, mas eu tenho muita ilusão encalha...digo, no estoque.
-Porquê tem tanta ilusão assim?
-Ah, têm muita matéria prima, a ingenuidade. Isso dá que nem música ruim em FM.
Entra uma senhora bem vestida (na verdade, mal vestida, mas ela acha) com cara blasé, me empurra e fala:
-Oi, olha só, eu vou numa passeata na praia hoje, e queria um pouco de hipocrisia.
-Quantas garrafas?
-Me dá todas (próclises, próclises), depois eu tenho uma reunião dos MSSMC (Moral, só se me convir), e preciso de hipocrisia para servir a erva.
-Erva?
-É, maconha, porra. Ou pensou que era chimarrão? Vendedor burro.
-Mais alguma coisa?
-Ainda têm um pouco de falsidade?
-Só sobrou discernimento. Serve?
-Acho que pra reunião, um vidrinho basta.